INFO
Os desastres com os desmoronamentos dos morros no Guarujá e Santos nos dias 2 e 3 de março de 2020, fizeram parte de uma trágica lista de eventos similares que começaram em 1615. Em fevereiro daquele ano, parte da encosta do Monte Serrat desabou sobre um grupo de piratas holandeses invasores, que atacavam a Vila de Santos e foram surpreendidos pelo desastre natural, que os fizeram bater em retirada. Na época, os moradores creditaram o evento, a um milagre de Nossa Senhora do Monte Serrat. Nos séculos que se seguiram, XVIII e XIX outros desabamentos aconteceram, porém, sem maiores prejuízos ou perda de vidas em virtude da pouca ocupação dos locais atingidos.
No dia 10 de março de 1928, ocorreu o maior número de mortos, 80, devido a um grande desabamento acontecido no Monte Serrat. Este número quase foi alcançado em 1956. Em março daquele ano, veio acontecer por duas vezes vários deslizamentos que produziram 65 mortos. O primeiro foi no dia 1 de março, que atingiu, basicamente, os moradores dos Morros de Santa Terezinha e Marapé causando 22 mortos. Praticamente, três semanas depois, no dia 24 outro temporal causou deslizamento em vários morros principalmente na Caneleira, Jabaquara e Nova Cintra. Neste desastre, 43 pessoas perderam a vida.
Encontramos em uma matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo, um texto onde descreve o número de mortos e de vítimas e as perdas materiais, no dia 24 de março, ocorridas em Guarujá, que na época contava com uma população de aproximadamente 50 mil habitantes.
“No município de Guarujá: Sitio Grande, Desmoronamento, com queda de uma casa, com 2 mortos e 1 gravemente ferido; Vila Maia, desmoronamentos com a queda de 6 casas, e 8 feridos, sendo um gravemente; Cachoeira, desmoronamentos com a queda de 4 casas e interdição de 4, com um ferido gravemente; Morro da Glória, desmoronamento com a queda de 6 casas; Estrada do “Ferry Boat”, 2 casas destruídas pelo temporal, com 3 feridos; Vila Souza, desmoronamento com a queda de 1 casa e 30 em perigo; e Rua do Contorno, queda de 1 casa e 4 em perigo.”
Antes do final do século passado os desastres nos morros da Baixada Santista se repetiram nos seguintes anos: 1978, 1979, 1988 e 1989.
A partir de 1928, em nossas pesquisas encontramos após esses eventos nas notícias de jornais, nos dias e semanas posteriores aos desastres, as seguintes e mesmas informações sobre providências: nova legislação, prevenção, orientação, obras de contenção, e política de remoção das pessoas das áreas de risco. Na prática, o que ocorreu de fato e certamente ocorrerá agora é que com o passar do tempo, nada de efetivo e de definitivo será feito.
Quando a população era seis vezes menor do que a de hoje, não o fizeram. Quando a legislação estava nas mãos do Executivo, não o fizeram. Quando existiam áreas disponíveis para relocação, não o fizeram. Por isso, acreditar que algo será feito sem que caiamos novamente em um processo de discussão eterna, diálogos intermináveis, negociação política com interesses sombrios, antes que venha o próximo desastre é o mesmo que acreditar na visita do coelhinho na próxima Páscoa.
Quando era fácil não foi resolvido. Agora, que é muito difícil, não há espaço para o depois. No depois, habita o impossível.
A história ensina.
Texto: Enrique Dias (março/2020).
Fontes: jornais A Tribuna e O Estado de São Paulo, e site Novo Milênio.
Imagem do desabamento em Santos, 1956, jornal A Tribuna e site Novo Milênio.
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